20 outubro 2009

Brasil de hoje ?

Sinto vergonha de mim
Por ter sido educador
De parte desse povo,
Por ter batalhado
Sempre pela justiça,
Por compactuar com
A honestidade,
Por primar pela verdade
E por ver este povo
Já chamado varonil
Enveredar pelo caminho
Da desonra.
Sinto vergonha de mim
Por ter feito parte de uma era
Que lutou pela democracia
Pela liberdade de ser
E ter que entregar
Aos meus filhos
Simples e abominavelmente
A derrota das virtudes
Pelos vícios
A ausência da sensatez
No julgamento da verdade,
A negligência com a família,
Célula-mater da sociedade
A demasiada preocupação
Com o “eu” feliz
A qualquer custo
Buscando a tal “felicidade”
Em caminhos eivados
De desrespeito
Para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim
Pela passividade em ouvir
Sem despejar meu verbo
A tantas desculpas ditadas
Pelo orgulho e vaidade
A tanta falta de humildade
Para reconhecer um
Erro cometido
A tantos “floreios”
Para justificar
Atos criminosos
A tanta relutância
Em esquecer a antiga posição
De sempre “contestar”
Voltar atrás
E mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim
Pois faço parte de um povo
Que não reconheço
Enveredando por caminhos
Que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência
Da minha falta de garra
Das minhas desilusões
E do meu cansaço
Não tenho para onde ir
Pois amo este meu chão
Vibro ao ouvir meu Hino
E jamais usei a minha Bandeira
Para enxugar o meu suor
Ou enrolar meu corpo
Na pecaminosa manifestação
De nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim
Tenho tanta pena de ti
Povo brasileiro!
De tanto ver triunfar
As nulidades
De tanto ver prosperar a desonra
de tanto ver crescer a injustiça
de tanto ver agigantarem-se
os poderes nas mãos dos maus
o homem chega a desanimar da virtude
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto.

Ruy Barbosa, falecido em 1 de Março de 1923.
Fez seu testamento político na fórmula de um epitáfio, que ele mesmo escreveu para sua pedra funerária:
"Estremeceu a Justiça, viveu no Trabalho; e não perdeu o Ideal"