20 setembro 2007

Do sepulcro

Como dizem:

Se no derradeiro momento da morte, lembramo-nos de uma vida inteira passando diante dos olhos, talvez agora olhando a minha volta, reviva momentos que antes tenham passado despercebidos. Os ruídos não são mais os mesmos, a ausência é presente, e o silêncio ensurdecedor. Dos pensamentos que povoam minha mente, os que mais me subtraem, são a perda e a covardia. Confesso que não consigo nem mesmo explicá-los, o que resta são apenas estes pensamentos, e só.
E se tempos antes eu percebesse a sutil arte do ardil, em conceber planos que jamais seriam os seus, ou mesmo de outrem. E se na luta contra aqueles que acreditava ser meus inimigos, os tivesse acolhido e orientado, talvez, e digo apenas, talvez; houvesse uma chance.
Chances que já as tive, mas outros ainda não vislumbraram. Choro por eles e elas. Diferente dos felinos tenho 37 vidas, e sei o que passei em cada uma delas, dos detalhes que fizeram-me sobreviver e de outros tantos que arrancaram algo de mim. Do sepulcro, vejo a ressurreição logo adiante, mas me consumo pelos que deixo pra trás.

E de pedaço em pedaço continuo, na esperança de reparar em parte, aquilo que como coadjuvante permiti acontecer, sepultado vivo, cá estou, por mérito.
Contemplando o horizonte, mesmo sem o chão sobre meus pés, me senti mais confiante do que nunca, diante do oeste, mesmo sem um norte por vir, mas crente na fé e nas palavras dos que estão ao meu lado.
“Me he esmerado en no ridiculizar ni lamentar ni detestar las acciones humanas, sino en entenderlas.” Baruch de Spinoza